Moradores de Marvila inauguraram ontem de forma simbólica, com uma placa de esferovite, a extensão do centro de saúde da freguesia, que ainda não abriu, apesar de a obra ter sido concluída há meses.
A subregião de Saúde de Lisboa nem sequer tem data para a sua entrada em funcionamento, aparentemente por não ter ainda sido decidido que serviços instalar lá dentro. O equipamento foi totalmente construído a expensas da Câmara de Lisboa, que concluiu que era a única maneira de os habitantes dos bairros dos Lóios, Flamenga e Armador terem acesso a cuidados de saúde na sua área de residência.
"Foi combinado entre a câmara e a Administração Regional de Saúde que caberia a esta última entidade pagar os acabamentos interiores e as obras de especialidade do edifício. Acabaram por nos dizer que não tinham dinheiro para isso e fomos nós que completámos a obra, em Abril passado", relata o porta-voz do vereador Sérgio Lipari, Francisco Barros.
A responsável pela sub-região de Saúde, Manuela Peleteiro, que não acredita que a obra tenha realmente ficado pronta há oito meses, como assegura a autarquia, diz que o edifício "é muito grande para funcionar como extensão de centro de saúde". A Administração Regional de Saúde tenciona por isso instalar nele não só uma unidade de saúde familiar - um novo modelo de assistência médica que "permite dar resposta a mais utentes do que o sistema dos médicos de família" - como um outro serviço do Ministério da Saúde a designar. A solução final, explica, vai ser discutida com a Câmara de Lisboa.
Acontece que, segundo o seu porta-voz, o vereador Sérgio Lipari não obteve qualquer resposta a um pedido de reunião urgente que fez à Administração Regional de Saúde, precisamente para debater o caso. O mesmo já tinha acontecido aos serviços camarários encarregues de protocolar a cedência do espaço ao Ministério da Saúde, acrescenta Francisco Barros.
Enquanto a autarquia e os serviços regionais do Ministério da Saúde não se entendem, o dia-a-dia de quem mora nesta zona de Marvila e necessita de cuidados de saúde continua um calvário: "Depois de esperarem mês a mês e meio pela marcação de uma consulta, as pessoas só têm um autocarro para chegar ao centro de saúde, que fica no extremo oposto da freguesia, quase no Poço do Bispo. Da paragem até lá é um quilómetro a pé, e, quando lá chegam, ficam à espera de vez em pé, porque não há assentos para toda a gente", descreve o organizador do protesto de ontem, Sebastião Cabral, da associação Tempo de Mudar. Quanto ao tamanho alegadamente desmesurado do novo edifício, o líder associativo tem dúvidas: "Vai servir 17 mil famílias, não é assim tão grande quanto isso."