Extensão do Centro de Saúde de Marvila, no Bairro dos Lóios, inaugurado em 07-12-2006 por suas excelências, os moradores." A peculiar placa, em esferovite, foi ontem descerrada poucos minutos depois das 19.00. A chuva e o vento não foram suficientes para adiar mais a "inauguração" deste equipamento que, desde 2002 (data em que o edifício foi concluído) , deveria estar a servir 16 mil moradores de três bairros - os Lóios, o Flamenga e o Armador.
Alto e bom som, uma centena de moradores, lembrou ao Governo que "o povo está impaciente" porque "não se pode estar doente". E exigiu ao "senhor ministro [que] tome uma atitude: Abra já o Centro de Saúde". "Como os senhores que mandam não fazem nada, temos de fazer nós": A reclamação surge poucos minutos antes dos futuros utentes encenarem uma inauguração com pompa e circunstância em que, ao corte da fita, se seguiu o brinde com champanhe.
Ao DN, Eduardo Gaspar, o presidente da Associação Tempo de Mudar explicou que esta acção teve por fim "chamar a atenção a quem de direito, nomeadamente a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT)". A esta última, Eduardo Gaspar tece mesmo duras críticas: "Se a construção do centro foi articulada, em 1999, entre as duas entidades, não compreendemos como é que agora a ARS vem dizer à comunicação social que o edifício é grande demais para ser apenas uma extensão de saúde".
Fonte do gabinete do vereador responsável pela Acção Social, Sérgio Lipari, garantiu, ao DN, que a Câmara não só concluiu a sua parte em 2002, como ainda acarretou com a empreitada respeitante aos interiores, que era da responsabilidade da ARS. "Da nossa parte está tudo concluído há muito tempo", salienta a mesma fonte.
Quem não quer saber destas guerras entre as duas instituições são os moradores que garantem continuar os protestos, caso o centro não seja oficial e brevemente inaugurado. "Temos já agendada uma reunião para esta terça-feira, com algumas associações e entidades dos três bairros que este centro de saúde vai servir e para a qual convidámos também o bairro das Amendoeiras para definir novas estratégias", explica Eduardo Gaspar, para quem este último bairro só tinha a ganhar se viesse também a usufruir do novo centro.
Também José Sá Fernandes, vereador independente eleito pelo Bloco de Esquerda, que se solidarizou com os moradores, promete avançar com mais um requerimento no início do ano, caso não seja feito nada até lá. Há quatro anos que Sá Fernandes, ainda como cidadão, luta pela abertura deste centro. "Já como vereador, alertar para esta realidade foi uma das minhas prioridades", disse ao DN este responsável, para quem a população está a ser injustiçada ao ter de usufruir de um centro de saúde que não tem condições (ver texto em baixo), nem médicos suficientes para atender toda a gente. Isto enquanto o novo centro aguarda, há quatro anos, pela inauguração...
"É uma vergonha, aos anos que está para abrir"
O edificio do Centro de Saúde de Marvila é recente. Um prédio na zona da Matinha, com cinco andares, que serve cerca de 40 mil utentes da freguesia de Marvila, mas estes não se mostram agradados com os serviços prestados.
Das queixas destaca-se o que dizem ser a lentidão no atendimento e na marcação de consultas. "Uma pessoa vem aqui e só tem consulta de um mês para o outro", disse ontem ao DN Maria Luisa Barros, moradora na antiga zona J, que lamenta ainda que a extensão no Bairro dos Lóios não esteja a funcionar. "É uma vergonha, aos anos que está para abrir. Dava mais jeito, mas assim tenho de vir para este e vá lá que agora já há um autocarro."
José Vicente, utente "há 20 e tal anos" do Centro de Saúde de Marvila, mostra-se indignado pelo atraso na abertura da extensão, que podia "aliviar" aquela unidade. "Dá-me ideia até de que a extensão já está ultrapassada, o que precisava era de um centro de saúde novo, já que a população tem também crescido. " Acaba por não resolver nada, quando abrir", acrescenta. Sobre as falhas da unidade central diz ter "milhares de queixas: a sala de spera sem condições, porque só tem uma janela e há riscos de contágios, os atrasos e, numa ona habitacional com tanata criança, só há uma pediatria", alertou.
Filipa Cunha testemunhou os problemas na área da pediatria: " Foi a primeira vez que cá vim e não gostei. Nos serviços não sabem explicar nada e estive desde as 10:00 à espera para a miúda ser atendida quase ás 13.oo. Foi a primeira e última vez", disse. Alcina Praça diz que não costuma frequentar muitas vezes o centro de saúde, mas queixa-se do facto de "ter muita gesnte. Espera-se sempre bastante". Sobre os serviços, considera que "são os normais" e sem grandes reparos a fazer.