A EXTENSÃO do Centro de Saúde de Marvila, concluída em Abril deste ano, continua de portas fechadas, para martírio da população da freguesia. O equipamento, cuja construção começou há cerca de seis anos, estava destinado a servir o Bairro dos Lóios, da Flamenga e do Armador, beneficiando assim cerca de 16 mil utentes.
O actual Centro de Saúde de Marvila está lotado. Presta cuidados a cerca de 40 mil utentes, dos quais 15 por cento não têm médico de família. Para lá chegar os utentes passam um martírio. A rua é estreita e os transportes ficam a, pelo menos, 800 metros de distância. Para os idosos este é um problema que os aflige: “Vamos ao centro de saúde porque estamos doentes e ainda temos de andar quilómetros. Não me parece nada bem. Tenho um pé ferido e só Deus sabe o que me custou vir até aqui”, lamentou-se Manuel Pinto, à porta do Centro de Saúde de Marvila. Para conseguir ser visto pelo médico no próprio dia é preciso chegar bem cedo ao Centro de Saúde e ter a sorte de haver uma desistência. Os utentes esperam e desesperam por uma consulta, “muitas vezes mais de um mês”, afirma outra utente.
No Bairros dos Lóios a população passa um “verdadeiro inferno” para recorrer ao Centro de Saúde, que fica “no extremo da freguesia”. Com a alteração dos autocarros da Carris a situação ficou ainda mais complicada. “Não percebo, com uma extensão aqui no bairro e fazem-nos andar estes quilómetros todos para ir ao médico. Sinceramente, só neste país”, acusam os moradores do bairro, os principais beneficiários do novo equipamento.
Belarmino Silva, presidente da Junta de Freguesia de Marvila, acredita que a abertura da extensão de saúde, no Bairro dos Lóios, estará para breve. “Acreditamos que no primeiro trimestre de 2007 a zona envolvente vai estar requalificada de forma a que não haja entraves à utilização desta unidade de saúde”.
A requalificação do meio envolvente é para Eduardo Gaspar, presidente da Associação Tempo de Mudar, uma das grandes prioridades. Será complicado abrir uma extensão de saúde paredes-meias com oficinas clandestinas, apesar de considerar o novo equipamento “uma necessidade urgente”. Este problema tem de ser resolvido pela autarquia de Lisboa que “terá de negociar com os proprietários das oficinas a saída daquele local. Isto deve ser o mais rápido possível, porque aqueles serviços são incompatíveis quer com o Centro de Saúde, quer com a população que reside no bairro que não pode estar em contacto com materiais poluentes”. A rua faz neste momento de estaleiro e de parqueamento às oficinas, situação que “têm de ser resolvida em breve”.
Há vários meses que a Associação Tempo de Mudar enviou um ofício ao Governo a pedir esclarecimentos sobre o futuro do edifício. “Há duas semanas recebemos a informação do gabinete do Ministro da Saúde a dizer que tinham encaminhado a situação para a Administração Regional de Saúde de Lisboa (ARS). Mandámos então um ofício à ARS a pedir esclarecimentos, mas ainda não obtivemos resposta”.
A Câmara Municipal de Lisboa confirma que “na altura, há seis anos, a autarquia é que ficou responsável pela construção do equipamento, a nível arquitectónico”, tendo sido assinado um protocolo, que não incluía a concretização dos acabamentos técnicos e o equipamento médico. Falta agora a Administração Regional de Saúde de Lisboa assinar o protocolo que lhe delegue competências.
O EXPRESSO do Oriente contactou a ARS que foi parca nas palavras: “O novo equipamento, que é obra da Câmara Municipal de Lisboa, poderá ter interesse para a ARS. Está a ser apreciado um eventual protocolo”.