- esta gente cujo rosto
- às vezes luminoso
- e outras vezes tosco
- ora me lembra escravos
- ora me lembra reis
- faz renascer meu gosto
- de luta e de combate
- contra o abutre e a cobra
- o porco e o milhafre
- pois gente que tem
- o rosto desenhado
- por paciência e fome
- é a gente em quem um país ocupado
- escreve o seu nome
- e em frente desta gente
- ignorada e pisada
- como a pedra do chão
- e mais do que a pedra
- humilhada e calcada
- meu canto se renova
- e recomeço a busca
- de um país liberto
- de uma vida limpa
- e de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner in autêntica, revista da Unicer, Julho 2006